DUO

Meu coração tem a intensidade e a profundidade dos que escolhem a morte como única saída – e a marca dos que sobrevivem,
nem sempre pela própria natureza, mas pela imposição da luta.

Meus olhos guardam a morbidade dos que vivem sob a neblina
e aprendem a gostar mais das trevas que da luz –
e a escancarada alegria dos que têm muito pouco na vida,
mas gastam tudo em um só instante de prazer.

Meu nome guarda a fusão do Horror e da Paz
- uma homenagem a Marte, Deus da Guerra,
- um altar à Maria, Rainha dos Céus.

Com um olhar voltado aos anjos, outro nem tanto,
um pé cravado no solo, outro que voa, todo o meu ser oscila, tic-tac, entre o sim e o não, tic-tac, entre a dor e o prazer, tic-tac,
entre ser ou não ser, entre o amor e o vazio...

Entre a carne - que sou eu -, e o espírito, que é quem eu sou.
Entre a chuva e o céu de anil, entre o calor e o inverno,
entre o masculino e tudo o que é ser mulher...

Entre a gueixa ou a santa, bicho-humano ou angelical,
entre o fogo e o gelo
 um quasésimo de milimetrésimo de dionésimo de segundo 
 um tempo para ser somente Eu,
 sem definições que não me exprimem,
palavras que não me relatam,
 nomes que não podem contar quem sou.

Meu coração tem dois lados, como a Lua.
Um, que bate e se desespera, que sofre e também ri sozinho,
que erra, aprende e envelhece.
O outro, nem eu conheço.

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